segunda-feira, 6 de julho de 2009

É mais fácil cultuar os mortos do que os vivos


A frase utilizada para dar título a este artigo foi cunhada pelo genial compositor Zeca Baleiro em sua canção "Minha Casa". Ela serve muito bem para ilustrar o quanto se dá maior valor às pessoas quando morrem do que quando estão vivas.


O maior exemplo disso se aplica às celebridades. Vejam o que aconteceu no último dia 25 de junho, quando a música ficou "fisicamente" desfalcada com o falecimento do pop-star Michael Jackson. Tudo bem, o cara tinha seu talento artístico, sabia fazer músicas boas, era um excelente dançarino, porém era um produto da chamada "cultura de massa". Antes de sua morte, Michael vivia numa fase de quase ostracismo, distante da mídia e dos holofotes, embora estivesse arquitetando seu retorno ao show business. Ultimamente, quando se ouvia falar dele na mídia, tudo se resumia a comentários sobre os escândalos (diga-se de passagem as acusações de pedofilia), à coloração esbranqueada de sua pele e à fisionomia mostruosa que ele deu ao seu rosto depois de tantas cirurgias plásticas. Pronto! Bastou o cara morrer e a mídia correu para colocá-lo no altar novamente, veiculando sem cessar reportagens em todos os meios de comunicação (TV, rádio, jornais, revistas, internet) sobre a carreira dele e sobre os fatos que cerceiam os confusos preparativos para seu funeral, ao qual está se prometendo um verdadeiro espetáculo! Para completar, as rádios FM tocam sem parar músicas do Michael, quase todas as bancas de CD e DVD piratas na rua bombardeiam nossos ouvidos e demais sentidos com músicas do Michael. Os downloads de músicas e vídeos dele na internet ficaram congestionados. No site Youtube os vídeos mais vistos são os vídeo clipes que ele gravou. Antes dele bater as botas, estava praticamente esquecido, quase ninguém se lembrava dele. Agora todo mundo tá lembrando dele!


Mas sempre foi assim! Eu me lembro muito bem, eu tinha 9 anos de idade quando John Lennon morreu ao ser brutalmente assassinado por um fã. A morte dele causou uma grande repercussão na mídia. Tanto é que a morte dele contribuiu para alavancar as vendas do disco dele lançado na época: DOUBLE FANTASY, tudo isso graças à mídia que explorou a comoção para promover as músicas dele. Inclusive aquela foi a época em que mais se tocou músicas dos Beatles. Inclusive eu passei a gostar das músicas dessa banda fantástica após a morte de Lennon.


Quando os integrantes dos Mamonas Assassinas morreram num trágico acidente aéreo em 1996, as rádios FM e as lojas de discos (ainda não havia na época a pirataria em larga escala como existe hoje) exploraram a comoção para vender mais as músicas do grupo. Quando Renato Russo morreu no mesmo ano, a mídia também explorou a comoção causada para vender mais as músicas dele e do Legião Urbana.


Isso é pra se ter uma idéia de como a mídia é capaz de transformar um artista em um mito quando ele morre. Acontece que essa atitude demonstra o quanto somos pessoas hipócritas, não somente com as celebridades, mas também com as pessoas comuns do nosso convívio social, porque quando alguém está vivo muitas vezes fingimos que gostamos delas, porém na prática fazemos pouco caso com elas, as tratamos com desprezo, chegando ao ponto de abandoná-las. Mas quando tais pessoas morrem, aí passamos a lhes dar valor, dizendo a Deus e ao mundo o quanto elas eram bacanas e tão queridas. Mas por que não costumamos demonstrar esse apreço quando estavam vivas? Isso tem tudo a ver com o ditado popular: "damos maior valor às coisas quando as perdemos".


Pois bem, não desejo menosprezar a importância que Michael teve enquanto artista, mas tão somente expressar minha opinião a respeito desse hábito que temos ao dar maior importância às pessoas quando as perdemos do que quando as temos no nosso convívio. Ou seja, temos que aprender a dar valor às pessoas que nos são queridas enquanto estão vivas, só assim provaremos o quanto somos verdadeiros ao demonstrar-lhes qualquer sentimento de afeto. Não esperemos que elas morram pra demonstrar o nosso sentimento de afeto, mas que demonstremos tal afeto enquanto estão bem vivinhas ao nosso lado!


E aqui encerro as minhas palavras. Saudações! Fiquem com Deus!

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