Recentemente foi aprovada a REFORMA ORTOGRÁFICA da língua portuguesa, com o simples propósito de unificar a estrutura ortográfica em todos os países de língua portuguesa (Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor Leste), eliminando as variações existentes entre um país e outro.
OK! Esta reforma, de certa forma, veio para, acima de tudo, descomplicar mais a forma de escrever a língua lusitana de raízes latinas. Mas, será que vai fazer alguma diferença?
Esta reforma foi resultado de um acordo entre os países supra-citados, contando inclusive com a supervisão da Academia Brasileira de Letras. Mas, se andarmos pelas ruas pelo Brasil afora, lermos o que muitos cidadãos escrevem, podemos concluir que não existe apenas uma reforma ortográfica, mas várias!
Existe, sim, uma reforma ortográfica oficial, esta que está sendo amplamente divulgada pelos meios de comunicação. Mas existem outras "inúmeras" reformas ortográficas extra-oficiais pelo Brasil afora, feitas por conta própria pelos próprios cidadãos brasileiros. Não entenderam o que estou dizendo? Calma, vou explicar direitinho.
Essas "reformas ortográficas extra-oficiais" são decorrentes da deficiência do nosso sistema de ensino público que deteriora intelectualmente a população brasileira, sobretudo a mais carente. Então, um indivíduo que, não tendo condições econômicas de usufruir de um ensino de melhor qualidade, se submete ao decadente e precário ensino público, assimila noções muito limitadas da nossa língua. A prova disso está nas "asneiras" que tais indivíduos escrevem, mas não é por culpa deles não. A culpa está no sistema educacional público deste país. Não é que tais indivíduos têm a iniciativa de fazerem suas reformas ortográficas. Essa idéia de "reformas ortográficas extra-oficiais" que cunhei é na verdade uma "metáfora" pra representar muito bem essa problemática educacional.
Para demonstrar essas "reformas ortográficas extra-oficiais", podemos citar como exemplo inicial a forma de se escrever "conserto" ou "concerto". Qual das duas formas significa "endireitar" e qual siginifica "apresentação musical"? Para quem promove uma "reforma ortográfica" por conta própria não faz "diferensa" escrever com "s" ou com "c". Se você procurar uma oficina de carro, de produtos eletrônicos, de eletrodomésticos, de bicicletas, etc., lá você não encontrar um músico ou maestro de orquestra sinfônica, mas a palavra "concerto" com certeza você vai encontrar. Tomem o exemplo: concerto de TV, Som e DVD (uma orquestra formada por aparelhos eletrônicos!). Outro exemplo: OFICINA DO GORDO - concerto Chevrolete, Fíate, Volquis, Forde, Renô (uma orquestra de carros, imaginem a melodia: buzina, ronco de motor, pneu cantando).
Mas não é só isso, não! Alguém de vocês já teve a oportunidade de ler as "pérolas do ENEM"? Isso demonstra que os próprios estudantes secundaristas já estão bastante avançados intelectualmente e, antes mesmo de entrarem numa universidade, já têm respaldo suficiente para fazer sua "reforma ortográfica". Vejam estes nobres exemplos da reforma ortográfica:
- 'O nosso am biente ele estava muito estragado e muito poluido por causa que, os outros não zelam pelo ar puro.' (Esse deve lembrar disso sempre que está no Show do Planet Hemp)
- 'O serumano no mesmo tempo que constrói também destrói, pois nos temos que nos unir para realizarmos parcerias.''Vamos mostrar que somos semelhantemente iguais.' (Leia a Bíblia...)
- '...eles matam não somente aves mas também os desmatamentos de animais também precisam acabar.' 'morrem queimados e asfixiciados.' (Esse é um jumento, mas tem coração!)
- 'Hoje endia a natureza...' (Pelo menos ele não usou m, e sim n, porque m só antes de p e b, não é mesmo? Muito bem!)
- 'No paíz enque vivemos, os problemas cerrevelam...' (Outro erro acertado, ele usou 2 erres! Muito bem!)
Estas pérolas obtive neste site: http://www.portaldascuriosidades.com/forum/index.php?topic=57709.0
Nestas "reformas ortográficas extra-oficiais", nos verbos na forma infinitiva ninguém é obrigado a colocar o "r" no final. Querem ver exemplos? Em vez de escrever o verbo "estudar" pode escrever "estuda" (Mamãe, agora eu vou estuda português); em vez de escrever o verbo "digitar", escreva "digita" (Mandei o funcionário digita o texto no computador). Pois é! Ao ter a experiência de ler cartas que recebi de alguns amigos e conhecidos, pude ter a oportunidade de ver a "reforma ortográfica" feita pelos remetentes ao escreverem estas formas verbais.
Agora, pasmem! Até jornais, que têm a obrigação de zelar pela boa expressividade verbal, também estão promovendo "reformas ortográficas"! Um grande exemplo disso é um jornal sediado na cidade onde moro: Feira de Santana - BA. Nem vou citar o nome do jornal para não causar-lhe constrangimento moral. Mas se vocês terem a oportunidade de lerem os artigos publicados neste jornal, vão ver o quanto os jornalistas e redatores estão reformando a nossa língua. Esses indivíduos mereciam ter cadeiras asseguradas na ABL - Academia Brasileira de Letras.
Agora vou falar sério. A reforma ortográfica (a oficial) representa para o nosso país um verdadeiro contrasenso, pois ela bate de frente com a problemática do nosso ensino público. A população brasileira, que já não consegue expressar corretamente a ortografia da língua portuguesa anterior à reforma que entrou em vigor recentemente, vai entender essa reforma? Quando eu questionei no início se essa reforma ortográfica iria fazer alguma diferença, tal diferença somente seria notada entre aqueles cidadãos mais cultos (que tiveram condições econômicas de estudar em boas escolas ou eram verdadeiros CDF's independentemente da qualidade das escolas onde estudaram). Mas, para a população mais carente, que tem de se sujeitar ao ensino público, didaticamente deteriorado pela omissão do poder público, a reforma ortográfica não fará diferença alguma. Duvido muito que nas escolas públicas, nas aulas de Língua Portuguesa, a reforma ortográfica será abordada ou citada, inclusive nos livros didáticos. Aposto que os estudantes de escolas públicas não estão nem aí, não fazendo a menor idéia do que seja a reforma ortográfica.
Perguntem a um estudante do ensino público se ele sabe alguma coisa da reforma ortográfica. Imaginem a resposta: "reforma orto... quem é o pedreiro que vai reformar a horta da gráfica?